Separa papel e caneta porque nesta matéria eu vou te contar tudo o que você precisa saber sobre a audiodescrição no teatro.
Ao final, você entenderá:
- Como funciona a audiodescrição no Teatro;
- Quais são os equipamentos necessários;
- O que é preciso para a elaboração de um roteiro de audiodescrição;
- Porquê o audiodescritor precisa participar do ensaio antes da apresentação.
Qual o papel do consultor.
Como Funciona a Audiodescrição no teatro?
Vamos partir do princípio que a audiodescrição (AD) é um tipo de tradução. No teatro, essa tradução acontece simultaneamente à apresentação do espetáculo. As falas do audiodescritor entrarão nos intervalos dos diálogos existentes entre os personagens.
Dessa forma, para que o som dessa fala não interfira na performance dos atores nem na experiência do restante da plateia é preciso que o audiodescritor esteja em um espaço com isolamento acústico e vista para o palco.
A vista para o palco é necessária porque, mesmo com o roteiro pré-elaborado, no teatro sempre acontecem os improvisos e para que a AD acompanhe todos os acontecimentos, é preciso que o profissional tenha vista integral para o palco, para não perder nenhum detalhe.
E quais são os equipamentos necessários?
Para que a transmissão aconteça, é necessário uma Cabine Acústica e Equipamentos de Transmissão, que são os mesmos utilizados em eventos com tradução simultânea.
Cabine Acústica
O objetivo da cabine acústica é, como o próprio nome sugere, oferecer um isolamento acústico, de maneira que a fala do audiodescritor não atrapalhe na performance dos atores nem na experiência do restante da plateia. Já imaginou você assistindo a uma apresentação e alguém conversando ao seu lado? Não dá, né? Em alguns lugares, é possível fazer a transmissão diretamente da cabine de som do teatro, mas isso depende de vários outros fatores. Consulte a gerência do local para verificar essa possibilidade. Caso seja possível, você precisará apenas dos equipamentos de transmissão.
Equipamento de Transmissão
Esse equipamento possui uma mesa com microfone de transmissão e rádios receptores. Esses rádios são conectados aos fones de ouvido para que os usuários escutem a audiodescrição e possam entender as mensagens visuais transmitidas no palco através das expressões corporais e faciais dos atores, dos detalhes do cenário, da iluminação que marca passagem de tempo, quem entra e quem sai de cena, e tudo aquilo que seja visual e significativo para o entendimento da narrativa.
O que é preciso para a produção do Roteiro de Audiodescrição no Teatro?
O roteiro de AD é o documento em que o audiodescritor constrói a narrativa descritiva. Como eu disse anteriormente, todas as entradas da AD são inseridas nos intervalos dos diálogos existentes entre os personagens e não devem se sobrepor a eles, para não confundir o usuário.
Para que este roteiro seja assertivo e faça entradas bem marcadas, sem risco de sobrepor às falas dos atores, é preciso que o audiodescritor tenha acesso ao texto dramático do espetáculo. Neste texto, há todas as falas, rubricas, deixas e informações necessárias para o entendimento profundo do que e como acontecerá a apresentação, quem são os personagens, nomes e características marcantes de cada um, detalhes importantes do cenário e etc. Será com base nessas informações que o audiodescritor vai elaborar o roteiro de audiodescrição.
Neste processo de elaboração, uma boa conversa com o diretor pode ajudá-lo a entender melhor sobre a narrativa e tudo o que for relevante para o bom entendimento da história. Nesta etapa, todas informações e detalhes sobre os personagens, marcações, passagem de tempo, iluminação, figurino, cenário e sonoplastia, são importantes.
De quantos ensaios o audiodescritor precisa participar para fazer a audiodescrição?
É indispensável que o audiodescritor participe de, pelo menos, dois ensaios antes de fazer a apresentação da audiodescrição de um espetáculo.
Para a entrega de um serviço de qualidade, é indispensável ter assistido ao espetáculo com antecedência para entender e mapear tudo aquilo que é indispensável de ser transmitido. Não é possível fazer um bom trabalho sem esse preparo prévio.
Eu, por exemplo, não pego projetos que não disponibilizem acesso prévio aos ensaios. Este é um tipo de trabalho que consome muito tempo e preparo do profissional audiodescritor. É preciso que o profissional tenha uma capacidade elaborada de escrita, boa leitura, criatividade e pensamento ágil para escrever um bom roteiro que seja claro, simples e capaz de transmitir detalhes que podem potencializar a conexão da narrativa com os usuários. Além disso, também é importante ter uma voz com amplitude para que a transmissão ocorra de maneira eficiente e envolvente.
Sendo assim, no primeiro ensaio, o audiodescritor vai mapear todas as entradas possíveis da audiodescrição. A partir daí ele vai elaborar o roteiro com base no texto dramático para audiodescrever tudo aquilo que for relevante sem correr o risco de sobrepor às falas dos atores.
Qual o papel do Consultor de Audiodescrição?
Como vimos anteriormente, o audiodescritor precisa participar de, pelo menos, dois ensaios. No segundo ensaio, o audiodescritor levará o pré-roteiro elaborado para compartilhar com o Consultor de Audiodescrição. Este profissional, é um audiodescritor com deficiência visual. É ele que vai avaliar se as falas da AD estão inteligíveis ou se há algo que precisa ser melhorado. Essa etapa é de suma importância e não pode de forma alguma ser desconsiderada.
Com o roteiro aprovado, partiu apresentação!
O dia da apresentação! O que acontece?
No dia da apresentação, o audiodescritor deve chegar com, no mínimo, 40 minutos antes do início do espetáculo. Quando os usuários da AD se assentarem, é hora de testar a transmissão e ver se está tudo ok. Quando faltar uns 10 minutos para o início, o audiodescritor já pode começar a transmissão da AD.
É neste início que ele fará a introdução do espetáculo, descreverá o cenário, os personagens, características marcantes de cada um, figurino, posição das luzes, e tudo aquilo que for relevante para o bom entendimento da narrativa.
Ademais, é importante dizer que a audiodescrição não vai ocupar absolutamente todos os espaços vazios do espetáculo. Em muitos momentos, o silêncio é utilizado como estratégia de envolvimento. É preciso entender todas essas nuances e audiodescrever somente o que for necessário e indispensável. Isso significa que as entradas da audiodescrição acontecerão apenas nos intervalos dos diálogos mas não ocupará todos os silêncios existentes.
Ser audiodescritor é ser um Contador de Histórias...
E uma história bem contada, de forma clara, direta e envolvente, pode aumentar consideravelmente a conexão do usuário com a narrativa.
Se você é produtor(a), pense com cautela sobre o profissional que irá contratar para audiodescrever o seu espetáculo, pois será através dos olhos deste profissional que muitos usuários vão enxergar (ou não) os detalhes preciosos seu trabalho.
Se o seu espetáculo for acontecer aqui em Brasília-DF, entre em contato! Será um prazer atendê-lo.